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11/01/2013

Ligando os Pontos: O que o futuro do mobiliário nos reserva?

Congresso Moveleiro -  Claudio PerinComeçamos nosso artigo com uma frase muito poderosa de Steve Jobs, digna de pessoas com uma percepção de futuro muitas vezes classificada como visionária, que só faz sentido quando sinais vindos de diferentes origens são combinados, o exercício de ligar os pontos do passado, que são capazes de explicar o futuro!

"Você não consegue conectar os fatos olhando para frente. Você só os conecta quando olha para trás. Então tem que acreditar que, de alguma forma, eles vão se conectar no futuro. Você tem que acreditar em alguma coisa – sua garra, destino, vida, karma ou o que quer que seja. Essa maneira de encarar a vida nunca me decepcionou e tem feito toda a diferença para mim." (Steve Jobs - 2005 Discurso para formandos Stanford)

Longe da pretensão de encarnarmos Steve Jobs, iremos nos contentar com sinais muito mais modestos, os pontos do segmento moveleiro que estão por aí, para quem desejar ligá-los. Antes de continuar, respeitamos qualquer outra lógica de pensamento quer não caminhe no mesmo sentido, pois trata-se de um mero exercício mental.

O Primeiro Ponto: A Brasil Móveis edição 2013 que aconteceria no Anhembi em agosto deste ano foi cancelada pelo momento econômico do País. Muitos culpam as feiras regionais ou a dificuldade em tecer as parcerias para uma feira que mudou de mãos em relação à sua gestão anterior. São argumentos fortes, mas apesar de qualquer fator impeditivo, não existe na América Latina melhor estrutura para feiras e eventos que a oferecida na cidade de São Paulo, que inclusive é o maior mercado consumidor do Brasil. Virar as costas para ele não nos parece lógico o suficiente.

O Segundo Ponto: Ainda em relação às feiras, aconteceu em outubro deste mesmo ano sob o mesmo cenário econômico, a ForMar2013, feira destinada aos profissionais da marcenaria. Estivemos presente, respirando a feira e podemos afirmar que além de um público excelente, existia um astral de pessoas definitivamente interessadas em fazer novos negócios, não apenas fazer contatos e marcar presença. Indo mais além, existe a chance da feira "duplicar" de tamanho já na próxima edição, pela receptividade obtida.

O Terceiro Ponto: Apesar de nosso recente nascimento, o Portal do Montador tem percebido um maior interesse por parte dos usuários na contratação de profissionais da montagem que tenham habilidades para móveis planejados. Aqueles capazes de montar produtos personalizados (os montadores de móveis planejados), definitivamente são recursos humanos  em escassez no mercado, disputados acirradamente por clientes e marcenarias.

O Quarto Ponto: Conforme artigo "A migração do perfil de consumo das classes C e C+ nas áreas metropolitanas" já publicado no Portal eMóbile, mais de 80% dos novos empreendimentos na cidade de São Paulo tratam de moradias abaixo do 85 metros quadrados. Tais números podem inclusive ser confrontados nos habite-se emitidos pela prefeitura da cidade.

O Quinto ponto: Ainda no mesmo artigo citado, todas as demais classes sociais miram o estilo de consumo da classe A e acabam por transformar seu desejo de compra em produtos que possuam qualquer mínima semelhança com os exclusivos tops de mercado. Neste ponto, definitivamente o móvel planejado passou a ser objeto de desejo da classe C e realidade de consumo da classe B.

O Sexto Ponto: Observando a taxa de abertura e fechamento de estabelecimentos comercias, aqueles ligados aos móveis planejados e decoração, encontramos um turn-over bem mais elevado que o tradicional, ou seja, o mercado ainda não está maduro, característica de algo que encontra-se em expansão. Algumas lojas fechando não significa crise e sim uma seleção natural de mercado. O importante é observar que mais estabelecimentos abrem do que fecham, então existe a expansão!

O Sétimo Ponto: Existe uma dificuldade crescente de colocação de produtos seriados no mercado, o que vem fazendo a margem dos fabricantes destes produtos e também dos lojistas cair, principalmente quando não conseguem oferecem inovações suficientemente atrativas para convencer o consumidor a optar por eles em detrimento do móvel planejado. O móvel seriado passou então a ocupar o caráter de solução temporária, enquanto não é possível adquirir o planejado (objeto de desejo).

O Oitavo Ponto: Empresas que desenvolvem softwares de modelagem 3D, de realidade virtual e ambientação de móveis, principalmente aqueles que oferecem acesso via internet, vivem um "boom" de mercado e ainda existe muito espaço de crescimento, tanto quanto para novos entrantes, dado as margens de lucro obtidas neste tipo de negócio.

O Nono Ponto: O Modelo criado pelas marcenarias que atendem a região metropolitana de São Paulo (e não deve ser diferente nos demais grandes centros) conseguiu absorver diversas vantagens competitivas no segmento. Existe facilidade de aquisição de matéria-prima a preços competitivos nos grandes atacadistas, o sistema de parceria com arquitetos, montadores e afins assume uma carga tributária irrisória comparada à das grandes indústrias e lojas. Ainda na tributação, como EPP ou micro empresa, tais marcenarias conseguem operar em um sistema tributário totalmente favorável. A proximidade com o cliente final garante ainda valores de frete reduzidíssimos. A assistência técnica é rápida e de alto nível.

O Décimo Ponto: No quesito comercial, este sistema de parceria com foco no cliente transforma-se numa poderosa ferramenta comercial orientada à venda, onde todos os atores, marceneiros, arquitetos e montadores são reais vendedores. Desta forma, a força de venda é potencialmente amplificada. A "loja" é móvel, pois são pessoas em trânsito onde os 3 atores possuem caráter invasivo na casa do cliente, coisa que o vendedor de uma loja tradicional, o pivô da venda tradicional, não possui.

Certamente existem outros pontos, todos como migalhas de pão lançadas supostamente ao acaso, mas talvez, apenas talvez, esses pontos possam num futuro próximo ser ligados por alguém que acreditou em um cenário diferente de tudo o que conhecemos hoje sobre as práticas e processos vigentes para o mobiliário.

Seria uma experiência maravilhosa escanear meu quarto com algum leitor laser acoplado ao meu gadget (notebook, tablet, celular ou algo novo) e depois disso utilizar um aplicativo de internet em 3D para leigos (já parametrizado à prova de besteira) e criar meu novo móvel. Apertar um botão e toda essa tecnologia enviaria meu objeto de desejo para a marcenaria do João que fica poucas quadras de minha residência onde o resultado vestiria como uma luva.

Parando para pensar, não estamos muito longe deste cenário. Eu e o João, pessoas simples, não dominamos tal tecnologia, mas aguardamos ansiosamente uma nova realidade que seja personalizada.

Cláudio Perin

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